sexta-feira, 15 de abril de 2011

Chrono Trigger

O primeiro jogo a comentar aqui não podia ser outro. Até 1995 eu nunca fui muito fã do gênero RPG, até porque era furada alugar porque certamente eu não conseguiria terminar o jogo em um final de semana. O que rolava no meu Super Nintendo era muito Super Mario Kart, Super Mario World e International Super Star Soccer. Já tinha jogado The Legend of Zelda, e gostado muito, mas foi uma experiência um pouco perdida no meio de tantos outros jogos.

Bom, em uma daquelas tardes procurando algo novo na locadora, vi aquela capa com uma ilustração bacana, as screenshots no verso mostravam gráficos muito legais que chamaram atenção. Resolvi arriscar. E aí descobri o jogo mais marcante da minha vida gamer.



Quem não jogou (se é que isso é possível) e não quiser saber da história, não siga lendo porque certamente vai ter spoilers, não tem como falar sobre a experiência com esse jogo sem falar sobre a história dele.
Já nos primeiros minutos o jogo me prendeu. O badalar do relógio, a música aumentando... a abertura é sensacional. Essa trilha sonora é maravilhosa.


O início do jogo parece aquele início clássico de RPG, bastante texto, coisas aparentemente bobinhas acontecendo. Mas apenas parecia um início padrão.

O personagem principal (Crono) acorda, ou melhor, é acordado pela sua mãe. Ela manda ele sair da cama, ir aproveitar o belo dia e visitar a Feira do Milênio. Chegando lá você aprende o que está sendo comemorado (mil anos de fundação do reino, Guardia), tudo muito bonito, jogos, balões, pessoas se divertindo. Parece um começo padrão, não é? Mas o caso é que tudo que for feito aqui influencia em questões futuras. Você pode ajudar uma meninha a encontrar seu gato, comer o lanche de alguém, ganhar um boneco igual ao Crono, tentar vender o pingente de uma menina... só que nessa hora, o jogador não faz a menor ideia de que cada ação feita aqui pode ter uma consequência futura. Eu confesso que a primeira vez que joguei, fiz tudo "errado", e depois me arrependi tanto que recomecei o jogo do zero só para ir pelo caminho "certo".

Ali na feira, você esbarra na Marle, que com esse encontrão, perde seu pingente. Aí vocês ficam amigos, porque ela não conhece a cidade/feira e quer uma companhia. Uma das atrações da feira é o robô El Gato, que é praticamente um tutorial de combate do jogo. Por sinal, o robô foi construído por uma amiga de Crono, a Lucca que você ainda não conhece. Depois de um tempo perambulando, é soado um aviso de que a grande atração está pronta, e uma área que antes estava trancada é liberada.

Lá está sua amiga Lucca e o pai dela, ambos grandes inventores, que criaram um teletransporte. Para demonstrar, eles precisam de um voluntário, e advinhem para quem sobra? Para você, claro! Aqui eu achei que começaria o jogo de verdade, certo que eu seria arremessado para alguma dimensão ou algo assim. Mas não, a invenção funciona direitinho e o Crono é transportado de uma máquina para outra. Só que aí a Marle se empolga e quer provar também. Quando ela sobe na plataforma, seu pingente começa a reagir e brilhar (música de suspense começa a aumentar de volume), raios saem da máquina e ao invés dela ir para a outra plataforma, um portal é aberto e ela é sugada por ele.

Como não poderia deixar de ser, Crono vai em busca de Marle entrando pelo mesmo portal que ela foi. Assim, nosso herói vai parar no ano 600 A.C. O portal levava a uma montanha, onde aparecem os primeiros inimigos. Nessa época Crono descobre que Marle foi confundida com a rainha do reino que havia desaparecido. Quando eles conseguem se encontrar, ela desaparece diante dos seus olhos. Lucca chega nesse tempo com a ajuda de um bastão que ela criou que consegue utilizar os portais de tempo abertos. Para conseguir resgatar Marle, eles irão precisar de ajuda, e lá encontram o cavaleiro Frog (um cavaleiro que foi transformado em sapo por um mago). Juntos eles conseguem libertar a verdadeira rainha do reino, e levar Marle devolta ao presente.

De volta, Crono é preso, acusado de sequestrar a princesa. Sim, Marle era na verdade a princesa do reino - e descendente direta daquela rainha desaparecida em 600 A.C. O rei convoca um julgamento, e tudo que você fez durante a visita a Feira do Milênio influencia na sua sentença. Mesmo sendo inocentado, o conselheiro do reino leva Crono preso e o condena a morte. Aqui você tem a escolha de deixar o tempo passar (e aí Lucca o resgata) ou então fugir da prisão (eu sempre escolho fugir, para conseguir XP e alguns itens). Quando você consegue fugir, Marle decide ir junto. Os guardas do rei perseguem os três, e encurralados eles acabam encontrando outro portal, que acaba sendo a única forma de fugir.

Através desse portal eles chegam no ano de 2300 D.C. Um mundo desolado, frio e sem vida. Em um computador eles descobrem que o mundo ficou daquela maneira por causa de Lavos, uma criatura que apareceu em 1999. Achou que o jogo era só viagem do tempo para resgatar a princesa? Nada disso, agora a história começa a ficar mais complexa e séria. Crono, Marle e Lucca decidem tentar encontrar alguma maneira de impedir que seu futuro seja esse que eles viram. Nessa época eles encontram e reparam um Robo, que vem a se juntar a seu grupo. Após realizar algumas quests, é chegada a hora de voltar no tempo e tentar impedir Lavos. Só que quando os quatro tentam utilizar o portal do tempo, acontece algo que os leva para o End of Time.


Lá eles encontram o Guru do tempo, Gaspar. Ele explica que mais do que três pessoas não podem viajar pelo mesmo portal (boa saída do game para limitar a party em 3 membros), por isso que eles acabaram parando ali. O End of Time é o fim dos tempos (como diz o nome), mas também é onde todos os tempos se encontram. Existem pilares de luz que levam a diversos períodos e locais da história. E é também ali que você tem o primeiro contato com Mágica, através de um treinamento com um ser estranho (e engraçado). Crono recebe o poder do raio (Lightning), Marle do Gelo e Lucca do Fogo, o Robo por ser uma máquina não tem mágica, mas seus ataques são similares ao poder da Sombra.

Aqui vale uma curiosidade, na capa do jogo Marle tem o poder do fogo. O que eu ouvi é que essa ilustração foi feita em cima de uma imagem demo, e naquela imagem Marle tinha esse poder. Depois, com o desenvolvimento final da história, Marle ficou com o poder do Gelo.


Apartir desse momento o jogo pode dar um nó na cabeça. É preciso ir e voltar das eras, e ações feitas em determinada época influenciam no futuro. Crono volta para 600 A.C. e lá, junto com Frog, desafiam Magus (quem o transformou em sapo) por acreditar que foi ele quem invocou Lavos para o mundo. Depois do confronto um evento temporal acontece que joga nossos heróis para a Idade da Pedra em 65.000.000 B.C. Nessa época eles se juntam a Ayla, uma guerreira, contra os Reptites (humanóides répteis) e acabam testemunhando a origem de Lavos. Lavos é na verdade um ser extraterreste que cai na terra nessa época e ficou no interior do planeta sugando sua energia durante milênios, ressurgindo em 1.999 A.C. e causando aquele futuro horrível de 2.300 A.C.


A próxima viagem temporal é para 12.000 BC, um reino dividido entre magos e não-mágicos. Quem não possui poderes vive na superfície, em cavernas. Quem possui o poder vive em uma espécie de ilhas flutuantes (já viu Avatar?), em palácios e em uma convivência aparentemente perfeita. Os principais personagem dessa era são a rainha Zeal, a princesa Schala e o príncipe Janus. No primeiro encontro com Janus, ele faz uma predição dizendo que alguém morrerá em breve (alguém da sua party). Você descobre que esse poder que os palácios utilizam e fazem as ilhas fluturarem vem de Lavos! A rainha Zeal está utilizando uma máquina para sugar o poder de Lavos em busca da imortalidade. A rainha é muito poderosa e expulsa todos dessa época, além de selar o portal que eles haviam utilizado para chegar ali.


De volta ao End of Time, Gaspar diz que no ano de 2.300 A.C existe alguém que pode ajudar nas viagens do tempo. Esse alguém é Belthasar, o guru da Razão. Ele morreu construindo a Epoch, uma máquina do tempo. Mas antes de morrer ele passou suas memórias para um ser, que após passar as instruções para Crono, também morre.

De volta ao reino de Zeal e de posse da Masamune (a espada mágica de 600 A.C.) Crono consegue destruir a Mammon Machine. Descobre também que a rainha Zeal estava sendo controlada por Lavos, e que sua intenção era utilizar o corpo dela. Por causa do ataque a Mammon Machine, Lavos desperta. Magus, que estava disfarçado naquela época se revela e tanta atacar a criatura, sendo facilmente derrotado. Crono então tenta atacar, porém é morto.

Sim! O personagem principal é morto! Nunca tinha visto isso antes em nenhum jogo. Fiquei pensando o que eu podia ter feito de errado, se era game over, ou como o jogo seguiria dali para frente sem ter o herói.

O ataque de Lavos destrói Zeal, jogando as ilhas de volta a superfície, causando terremotos e tsunamis. Ao acordar, você vê que não existe mais a diferença entre os magos e os não-magos, todos vivem juntos nas cavernas. Lá você também encontra Magus, que revela que ele era Janus, e que se lembrava da destruição de Zeal, que acabou o jogando ainda criança na épocade 600 A.C. Desde então ele vinha buscando uma maneira de destruir Lavos por vingança por qualquer meio necessário.


Sentiu o paradoxo temporal? Já deu aquele nó na cabeça?

Aqui tem uma grande escolha, você pode enfrentar e derrotar Magus, ou deixar ele se juntar a equipe. Eu escolhi deixar ele vivo, e valeu a pena porque ele é muito poderoso. Independente da escolha, você recupera a Epoch e vai para o End of Time. Lá, Gaspar fala que já é possível enfrentar Lavos em diversas épocas, e cabe a você escolher quando e como. Porém, ele diz que há diversas pessoas que precisam de ajuda através do tempo, inclusive ressucitar Crono.

Gaspar dá o Chrono Trigger, uma espécie de ovo que leva para o momento desejado e congela o tempo para que seja possível reverter algum evento. Lembra daquele boneco que eu falei lá no início, que você pode pegar na Feira do Milênio? Você substitui ele por Crono no momento do ataque de Lavos, e assim tem o herói do jogo de volta.

As outras missões são no estilo dos RPGs como Mass Effect e Dragon Age para conseguir a lealdade de cada membro da equipe. Eu curti muito, a maioria explica a origem de cada um, sua história, motivações. Não vou comentar todas aqui, porque já dei spoilers o suficiente. Mas recomendo muito fazerem todas as missões.


O final "certo" do jogo só acontece se você fez todas as missões, ressucitou Crono e deixou Magus se juntar a equipe. Após o ataque e destruição do Reino de Zeal, surge uma espécie de nave, o Bad Omen, que flutua e existe em todas as épocas do jogo (menos 65.000.000 B.C.). É uma dungeon bem difícil, no final você enfrenta Zeal, e se a derrotar pode enfrentar Lavos. No início ele é um típico chefão, ele tem os poderes de todos os chefes que você enfrentou durante a história. Depois, ele tem mais duas formas, que depois de pegar a prática não são tão difíceis.

Porém, existem diversos finais possíveis no jogo. Se você não ressucitar Chrono, se matar Magus, se enfrentar Lavos ainda em 65.000.000 B.C., se enfrentar ele em 1.999 A.C, etc. Nesse site tem a lista de todos os finais e como conseguir fazê-los.

O jogo foi lançado também para Playstation One e para Nintendo DS. Nesses consoles foram adicionadas cutscenes em anime muito fodas (que eu só vi recentenmente). Também teve algumas "continuações" como Radical Dreamers e Chrono Cross. Mas não são exatamente continuações porque não aparece nenhum dos personagens conhecidos, apesar das histórias se passarem no mesmo mundo. A versão para DS teve alguns extras, que supostamente fazem a ligação entre os jogos.

Como eu não sou especialista, deixo aqui alguns links de podcasts sobre Chrono Trigger que falam também sobre aspectos técnicos que eu não me prendi. Quem é fã não pode deixar de escutar: Super Controle #47a - Chrono Trigger e Café com Games #11 - Crônicas do gatilho do tempo ativo de batalha. Ainda, quem quiser saber sobre as "continuações", pode escutar o Super Controle #47b - Chrono Cross. Existem também o Chrono Compendium, a enciclopédia com tudo sobre o universo de Chrono Trigger.

O jogo é de 1995, mas pra mim ainda é o melhor jogo da história. Vira e mexe ainda pego ele no emulador de Super Nintendo. Na época do videogame, aluguei ele mais de uma vez, mas era impossível manter um jogo tendo a rotatividade de uma locadora. Só fui terminar ele no emulador mesmo, devo ter feito uns 4 finais até hoje, mas algum dia ainda faço todos (aqui tem todos explicados e até download dos saves para vê-los). Eu nunca joguei as outras versões, nem as continuações e nem as versões de fã, acho que tenho medo de estragar a imagem que tenho do original.

O que mais me chamou a atenção foi a história, porém outros fatores ainda o definem como o melhor jogo, ou pelo menos o melhor RPG. Ao contrário de Final Fantasy, não existem batalhas randômicas, você vê os inimigos no cenário, e só os enfrente se quiser. E é bem fácil dominar o sistema de batalhas, mesmo eu que não tinha experiência com esse tipo de jogo peguei rápido. Cada membro da sua party tem uma espécie de barra stamina (e aí fica aquela tensão enquanto ela carrega e o inimigo pode atacar). Outro lance legal são os ataques conjuntos (Lightning + Fogo + Gelo, Lightning + Shadow, etc).

Fica difícil não falar que algo se destaque nesse jogo. Além da história e do sistema de batalha, a trilha sonora é impecável. Ela é simplesmente perfeita, encaixa exatamente com o momento do jogo, e depois, se escutar a música sem o jogo, você se lembra exatamente o que estava acontecendo. E para fazer isso na época do Super Nintendo tinha que ser muito mestre, até porque as mp3 da trilha dão 3 Cds! Na época era tudo no cartucho, lembrando que na época era tudo na base do chiptune! Ela ainda é presença constante no meu Ipod, e tem também uma versão sinfônica maravilhosa.

Espero que tenha deixado alguém com vontade, ou com nostalgia o suficiente para jogar Chrono Trigger.



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